tag:blogger.com,1999:blog-37300890058332646262024-03-14T10:20:19.234-03:00ocaiocaiuCaio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.comBlogger44125tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-36303787637256306322012-09-24T10:40:00.003-03:002012-09-24T11:09:03.793-03:00Mimese dos sentidosA Cidade da Luz agoniza no escuro<br />
E quando o Sol não está olhando, se produz<br />
Ostenta luzes cintilantes<br />
Exala o perfume das fossas<br />
Se esfrega no vômito bulímico da sarjeta<br />
Uma muralha de prédios delineia seu decote<br />
Em seu colo, lápides de luxo à beira mar<br />
Onde os cadáveres ganham (a) vida<br />
Suas fronteiras sempre em movimento<br />
Fronteiras que andam, comem, vivem, matam e dormem<br />
Que compram, viajam, votam e penteiam os cabelos<br />
Milhões delas, incorporando e invadindo umas às outras<br />
Lambendo os pés das fronteiras maiores como faz o mar<br />
Como se nas suas salivas também boiasse merda<br />
<br />
A sinfonia de sirenes, buzinas e ondas<br />
A fricção dos portões que abrem, fecham e prendem<br />
Vozes em uníssono orquestrando o caos<br />
Frequências invisíveis atravessando nossos poros<br />
São mentiras sutis que alimentam os dias<br />
Entre a pulsação do tempo e a dilatação do espaço<br />
Vendo corpos que pulsam, se dilatam e se alimentam<br />
A mimese dos dias é a mimese dos corpos<br />
Que é a mimese dos sentidos<br />
<br />
Um homem afônico empunha orgulhoso seu megafone<br />
Sua sombra triunfante na calçada impressiona os surdos<br />
Que contam para os cegos sobre o homem e seu megafone<br />
Perguntam-se que mensagens misteriosas ecoam dali<br />
Sobre liberdade, amor, justiça, coragem<br />
O homem e seu megafone inspiram a multidão<br />
Os cegos sonham em poder procurá-lo<br />
Os surdos sonham em ouvir suas palavras<br />
E todos se tornam melhores compartilhando suas virtudes<br />
Tudo por causa de um homem afônico, cego e surdo<br />
Que não enxerga o megafone que tem nas mãos<br />
Nem percebe que ele está desligado<br />
Nem tem mensagem nenhuma a passar<br />
A não ser a que já estava adormecida nos demais<br />
A cidade progrediu e até a medicina avançou<br />
Os cegos passaram a enxergar e, os surdos, a escutar<br />
Só não conseguiram curar o homem do megafone<br />
Até que, anos depois, decidiram matá-lo<br />
Pois ele dependia de máquinas para mantê-lo vivo<br />
<br />
Mas quem não depende?Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-31394261149391183772012-07-20T16:41:00.001-03:002012-07-21T01:00:58.798-03:00FomeMe dê fantasia, pois tenho fome do impossível<br />
Das rugas que deformam os segundos em horas<br />
De deuses ateus decompostos em trincheiras<br />
De quadros pendurados em paredes tortas<br />
E vozes escorrendo pelos bueiros da cidade suja<br />
E corpos se invadindo escondidos dos outros corpos<br />
E rostos e mãos e pés e sardas, umbigos e sinais<br />
Tenho fome do impossível que me habita<br />
E de vomitar o silêncio ancorado nas minhas entranhas<br />
<br />
Em abismos rodeados de respostas e vertigens<br />
Onde sobreviver é não duvidar nem se mover<br />
Cada passo constrói um labirinto trancado sob os pés<br />
E um cemitério de ideais se ergue atravessando os céus<br />
Fecundando nuvens estéreis que gozam sobre o cimento<br />
Enquanto alguns corpos vadiam à beira do abismo<br />
Sacodem leques e suam sobre cadeiras de praia<br />
E falam sobre leques e cadeiras de praia<br />
Protegidos pela sombra da lápide de bilhões de andares<br />
Onde o impossível repousa<br />
<br />
Quando minha fome mapeou minhas perversões<br />
Percorreu meu corpo com lambidas hipnóticas e unhas compridas<br />
Com sussurros depravados e mordidas distraídas<br />
Gemidos impronunciáveis, lábios inquietos, cílios e músculos<br />
Tudo consentido, de perto e de luzes acesas<br />
Que me alimentem fantasias impossíveis de beira de abismo<br />
Mas que não me encerrem em fomes insaciáveis<br />
<br />
E de tanto tentar recordar a fisionomia das sombras<br />
Esqueceu da fisionomia dos espelhos<br />
Foi ao cemitério de ideais<br />
Salivou sobre as lápides<br />
E vomitou uma âncoraCaio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-84780146625810233412012-03-02T17:03:00.000-03:002012-03-02T17:04:14.899-03:00O maratonista<div style="text-align: justify;">Enquanto as pegadas se acumulavam apressadas a me perseguir sobre a areia da praia, o suor me assediava o corpo inteiro. Ofegante, reduzi o ritmo da corrida e estabeleci como meta uma jangada atracada alguns metros adiante. Até me apressei ao chegar mais próximo dela, como que para saldar de vez minha dívida usando a energia que precisaria liberar em troca daquele objetivo. Consegui chegar, mas, por alguma razão, decidi continuar o treino. Segui pisoteando a areia hostil que sugava meus passos. Furei-a em pisadas desafiadoras enquanto incontáveis gotas de suor me abandonavam desistentes no meio do caminho.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sob o sol ultrajante da Praia do Futuro às onze da manhã, cada passo era uma volta ao mundo. O percurso me roubava o ar e todo esforço ameaçava ser o último. Com a respiração sôfrega e as pernas bambas de tão lento que o cansaço me tornou, percebi que estava sendo ultrapassado pelas minhas próprias pegadas, lideradas pela minha própria sombra. Podia ouvi-las no meu encalço, se aproximando e por fim passando esnobes por mim, me atropelando como ao mais insignificante retardatário enquanto o sol me chicoteava como a um esqueleto de carga. Mas ao avistar o fracasso acenando e sorrindo para mim do horizonte trêmulo, somente a obstinação, a paixão e esses tantos outros oxigênios que nos tiram o fôlego poderiam me proteger do constrangimento pessoal de desistir antes de recuperar minha sombra.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Eu já não era o mesmo, sabia. Mas ainda era eu mesmo. Afinal, o que somos é a única coisa da qual não podemos correr, é o que ainda permanece quando nem mesmo nossas pegadas estão dispostas a nos seguir. Algumas voltas ao mundo depois, alcancei minha sombra e ultrapassei minhas pegadas. As que ficaram para trás o mar lambeu e levou. Desde então, são partes de mim a caminhar no fundo do oceano.</div>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-70193629270964654252011-10-04T13:23:00.002-03:002011-10-04T13:31:11.335-03:00De dia<div style="text-align: justify;">Vocês se afastaram e nós fomos embora. Não queríamos sair dali sem nenhuma imagem guardada, então passamos o dia capturando luz com nossas retinas até fazermos anoitecer. Fomos para casa e deitamos em vigília com o dia guardado sob as pálpebras, mas quando acordamos vimos que ele já havia escapado novamente.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não havia ninguém por perto para recriminar quando decidimos atirar garrafas ao mar e mutilar livros. Arrancamos uma página de sumário e nela escrevemos nosso dia. Bebemos o delírio tinto e repusemos o conteúdo em forma de rabiscos falhos e arestas rasgadas. Confinado entre o vidro, a rolha e a água, o dia se afogou no horizonte e nós testemunhamos seu sangue se alastrar vermelho pelo oceano até só restar a noite. Nosso dia estava guardado a salvo no Atlântico. Entretanto, enquanto dormíamos, seu caminho deve ter cruzado com o de algum pirata intrometido que abriu a garrafa e o libertou, pois acordamos mais uma vez com a luz da manhã puxando nossas cobertas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ignorando a indiscrição das roupas que de um lado nos cobrem e de outro nos tocam, resolvemos usar nossas próprias peles como isca para o dia fugitivo. Abrimos os poros e sugamos mais luz, deixando o dia nos fecundar, nascer e morrer em nós. À hora do crepúsculo, já tínhamos a mesma cor que o céu. E continuamos camaleões, guardando o dia na pele até ficarmos escuros como a noite que enfim despíamos. Dormimos sentindo o sol a nos consumir de dentro para fora, vivo e guardado nas nossas entranhas. Grávidos. Mas o dia começou a nos abandonar a pele. Primeiro as costas, depois os braços e mesmo o rosto descascando, cada pedaço de sol caindo para fora novamente, e logo voltamos a ser tão pálidos quanto antes, tão claros quanto o dia que insistia em nascer. Demos a luz à luz.</div><br /><br /><object width="250" height="40"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><param name="flashvars" value="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=27090252&style=metal&p=0" /><embed src="http://grooveshark.com/songWidget.swf" type="application/x-shockwave-flash" width="250" height="40" flashvars="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=27090252&style=metal&p=0" allowScriptAccess="always" wmode="window" /></object>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-14886669235934533772011-05-26T13:35:00.001-03:002011-05-26T20:19:19.089-03:00Irremediável<div style="text-align: justify;">Ela é irremediavelmente linda. Seus cabelos se contorcem em espirais despenteando a brisa e assediando minha imaginação. Uma alegria preguiçosa habitando a correnteza entre nossos lábios, um sussurro devorando disfarces desbotados. Gosto de deixar suas cores pintarem minha sombra. Gosto dela.<br /><br />Distraída, deixa escapar pensamentos como se fossem bolhas de sabão e se molha sempre que resolve estourar alguma. Elas ganham o ar reluzentes e caóticas, algumas me molham também, outras molham as paredes, o colchão, os livros. Seu pensamento escorre por toda a sala inundando o tempo até ele se afogar e não passar mais. Ela pragueja, eu acho graça.<br /><br />A beleza que toca meus olhos se esconde nos dela, fragmentos de eternidade inacabada salivando lágrimas e bolhas de sabão. Morávamos juntos no labirinto mais bonito da rua, mas nunca nos encontrávamos. Podia sentir seu perfume me invadir e seu gosto me deixar. Podia ouvir seus passos, que enfim vêm de encontro aos meus agora.<br /><br />Deixa o tempo agonizar mais um pouco. Nem sei se moro numa dessas bolhas, mas sei que amar também é sentir cócegas no coração.</div>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-80309496875088241852011-05-17T16:20:00.006-03:002012-06-27T11:43:06.519-03:00Garrancho<div style="text-align: justify;">
As palavras não existem. São só onomatopeias do que existe de verdade. Fora do papel fino, o vento carrega pólen e move fios de cabelo que doem quando são arrancados, que molham na água, que pinicam os olhos. O resto é só garrancho delinquente de tinta e pixels. Nomes devorando cardápios, conceitos engrossando livros e manchetes empilhando jornais. Mas não me chamem de pessimista. Apenas não me chamem de nada. Mas me chamem mesmo assim. Não direi obrigado, mas ficarei agradecido.<br />
<br />
Quero que me leiam como ouço seus aplausos. Se não aprecio uma palma de cada vez, por que desfilo palavras vaidosas, uma após outra corroendo o papel e o ar? Que me leiam como ouço suas vaias. Quisera eu ser tão direto e desafiador quanto a garganta que insulta sem xingar. Uma poesia que dói, molha e pinica sem garranchos ferindo o silêncio, sem onomatopeias do real manchando a página limpa.<br />
<br />
E você, que está aí no futuro me lendo agora, não se deixe enganar: saiba que nunca previ que estaria aí. Apenas congelei um blefe para impressionar sua leitura com falsos dotes psíquicos quando este compêndio de inexistências chegasse aos seus sentidos coincidindo masturbações estéticas. Ah, as artimanhas da palavra grafada... Mas sou capaz de trazer a pessoa amada. Sim, sou. Desde que essa pessoa seja uma das quatro que me habitam.<br />
<br />
Aqui, elas ensaiam para encenar uma temporada eterna da despeça que escrevi, despeça composta apenas pelo primeiro desato, no qual sempre esquecem as falas:<br />
<br />
Um: O que vai acelerar nosso sangue hoje?<br />
Dois: A prece que passa apressada lavando pecados impecáveis e tocando trovas intocáveis!<br />
Três: Hã?<br />
<br />
Dois: Nada, é só um sentimento que inventei.<br />
Três: Vim te mostrar uma cor que inventei.<br />
Um: Também sou inventor. Inventei um sentido.<br />
<br />
Três: Como é seu sentido?<br />
Um: Como é sua cor?<br />
Dois: Como é seu sentimento?<br />
<br />
Um:<br />
Dois:<br />
Três:<br />
<br />
Seis: E o fim? O fim é outra dessas palavras que não existem. Não à toa, outra fala que todos esquecemos nas nossas deixas. E deixamos nossos papeis do mesmo modo como os assumimos, nenhuma palavra. Nenhuma.<br />
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E é para lá que olhamos enquanto ouvimos o bumbo no peito soletrar "fica".<br /><br />Podemos ficar. Aqui, enquanto o ar desvanece o rastro de fumaça do café que esfria indiferente. Aqui, enquanto gotas d´água fogem da chuva invadindo a janela aberta. Aqui, enquanto ponteiros hipnotizados alimentam o tempo. Aqui, enquanto o telefone chama. Aqui, enquanto lá. Mas lembro que já estivemos em todos esses lugares. Fizemos o café, abrimos a janela e acertamos os relógios com o telefone no gancho. Deixamos tudo assim. Sim, agora lembro de estarmos lá antes de virmos aqui para construir nossa ponte.<br /><br />Nossa ponte, que construímos ao lado de uma janela aberta, sobre um chão ensopado de café frio misturado com água de chuva. No ar, ecoam ponteiros e ringtones. Foi aqui que a pusemos, num lugar decadente onde ninguém são ousaria. A ponte do seu coração ao meu é uma obra condenada, mas que resiste quando a sustentamos com nossos próprios braços e bumbos. Então me acolhe gentil em braços sinceros. Eles servirão de ponte do seu coração ao meu, pois não haverá nada, nesse caminho, que não seja eu ou você. Fica. Fica. Fica. Fica.<br /><br />Fica.<br /><br /><object height="40" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf"><param name="wmode" value="window"><param name="allowScriptAccess" value="always"><br /><param name="flashvars" value="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=27949547&style=metal&p=0"><br /><embed src="http://grooveshark.com/songWidget.swf" type="application/x-shockwave-flash" flashvars="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=27949547&style=metal&p=0" allowscriptaccess="always" wmode="window" height="40" width="250"></embed></object><br /><br /></div>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-47601725827271804482011-03-09T12:36:00.000-03:002011-03-09T12:37:01.362-03:00Verdade<div style="text-align: justify;">Como a luz que invade o céu e faz brotar, sentir é se atravessar. E assim, bem leve, se deixou levar, passear no essencial. Repartiu um grão: viu na escuridão e me contou das cores. Tão calma, veste a alma com segredos que o vento sopra ao longe, eterno, indiscreto, espalhando que a alegria é uma verdade.</div>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-33071959143317871952011-02-24T11:08:00.003-03:002011-05-17T16:44:25.672-03:00Fe(i)tos<div style="text-align: justify;">Lembro de ouvir os sinos soarem ao último suar de seus poros. Olhos alheios, em luto vermelho, irrigariam os dias seguintes para compensar a ausência recente daquela transpiração inacabada. E seria isso. Seria só. Seríamos sós, todos juntos. Quantos já fomos até enfim nos tornarmos homens feitos de amizades desfeitas? Quantos outonos de primaveras suicidas caíram sobre nossas cabeças? Era quando matávamos o tempo, sem nos preocupar com o contrário, que somente os meses nos devoravam. Mas hoje são os segundos, mais numerosos e famintos, à espreita do nosso suor.<br /><br />Desde que você fez do silêncio seu hino, tem sido impossível não entoá-lo alto a ponto de incomodar todos ao meu redor. E logo após assistir o mundo lhe engolir os poros caminhei pelas ruas a cantarolar nota por nota da melodia, fluentemente, e depois tropeçando em arroubos de emoção e sarjetas imprevistas. Notei que algumas pessoas se juntavam ao coro. Cantavam junto, mas não me correspondiam lágrimas nem dentes. O silêncio, no entanto, era retumbante em meio a toda aquela confusão do Centro. Podia-se ouvi-lo entre os gritos, passos, motores, buzinas e caixas de som. Cantamos seu hino tão alto, amigo, que até os surdos escutaram. Os mudos, esses cantaram do início ao fim.<br /><br />Ruas inteiras se erguiam diante dos meus pés a cada esquina que surgia e seu hino tocava em algum lugar de todas elas, não importava quão barulhentas fossem. Era como o sol secreto da noite, a melancolia dos sorrisos, a distância dentro de um abraço, a coragem diluída em cada medo. Era como a amizade feita de um homem desfeito.<br /><br /><object height="40" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf"><param name="wmode" value="window"><param name="allowScriptAccess" value="always"><br /><param name="flashvars" value="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=2061752&style=metal&p=0"><br /><embed src="http://grooveshark.com/songWidget.swf" type="application/x-shockwave-flash" flashvars="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=2061752&style=metal&p=0" allowscriptaccess="always" wmode="window" height="40" width="250"></embed></object><br /><br /></div>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-78765025930705113072010-12-21T01:56:00.016-03:002011-05-17T16:55:35.467-03:00Quatro fragmentos de um eclipse<div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;">No início, havia medo à paisana. Havia cicatriz aberta de amor amputado por onde foge o sangue que esqueceu o caminho do coração. Havia o silêncio. Não qualquer silêncio, mas aquele feito da lembrança de sons que já não se ouve mais.</span><br /></div><br />Teus lábios são cálices cheios de desejo<br />que já bebi até a última gota<br />Não mais mancharei meus lábios com teu batom<br />nem mancharei com o meu a tua boca<br /><br />Nossos lábios se encontraram por acidente<br />numa noite tão inevitável quanto nós<br />Doce ilusão dos que mentem sem saber<br />Um vulto onde havia sua voz<br /><br />E vivemos nessa escuridão noturna<br />Compartilhando nosso egoísmo<br />Dividindo sem somar<br />Parecidos<br />Para quê?<br />Paradoxo<br /><br /><div style="text-align: center;">***<br /></div><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;">A porta da rua invadia a casa e de repente o lado de fora engolia o conforto dos móveis, retratos, louças e livros. Foi quando os pesadelos se tornaram mais freqüentes e dormir sequer era necessário para que eles acontecessem. Havia traças no chão da noite e pegadas de dança no céu da noite. E havia ranço de unhas roídas no ar da noite. E havia a noite pesando sobre o carpete mordido enquanto no céu distante a inveja dançava leve e irresistível.</span><br /></div><br />Vamos caçar delírios, eu e você<br />Eu, que transformei o fim de semana no fim do mundo<br />Você, que me saqueou as memórias sem dar satisfação<br /><br />Dizem que a alma não tem sexo<br />Fingem que o sexo não tem alma<br />Vamos encarnar um no outro, então<br /><br />Meu pensamento me escolheu como ouvinte<br />A brisa me lambeu como um cachorro simpático<br />Até a mesa molhada do bar me secou as angústias<br />E você?<br /><br />Tenho vergonha do que penso, do que falo, do que gosto, do que sou<br />Penso em você, falo em você, gosto de você<br />Sou você<br />E você?<br /><br /><div style="text-align: center;">***<br /></div><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;">O Sol ardendo em febre sobre o asfalto forçava uma intimidade tola enquanto espiava por entre cada fresta que se lhe apresentava na janela. Enquanto isso, esperava por si mesmo do lado de fora. A demência daquele que desfila todos os dias na mesma rua fazendo o mesmo alvoroço no mesmo horário, conhecido por todos pelo mesmo nome. Há algo de mágico nas manhãs solares que não se deixa conhecer completamente por quem presta contas regulares à sanidade. Mas por trás de todo eclipse há uma luz, então deixa o Sol derreter a angústia quando o eclipse passar.</span><br /></div><br />Sou quem quer que finja ser eu<br />Ou quem quer que eu finja ser<br />Fingindo ser quem quero<br />Ou querendo ser quem finjo<br />Querendo quem finjo ser<br /><br /><div style="text-align: center;">***<br /></div><br />Corro pros teus braços.<br />Cantando em silêncio<br />dançando em<br />descompasso.<br /><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;">E escorro em teu abraço com um “eu te amo” entalado na garganta que procura uma saída que não seja da boca pra fora. Que seja da minha boca pra sua.</span><br /><br /><object height="40" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf"><param name="wmode" value="window"><param name="allowScriptAccess" value="always"><br /><param name="flashvars" value="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=24629578&style=metal&p=0"><br /><embed src="http://grooveshark.com/songWidget.swf" type="application/x-shockwave-flash" flashvars="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=24629578&style=metal&p=0" allowscriptaccess="always" wmode="window" height="40" width="250"></embed></object><br /><br /></div>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-77069548704244737662010-07-20T12:07:00.009-03:002011-05-17T17:10:40.470-03:00Tríptico<div align="justify">De longe.<br /><br />Sinta-se desejado. Não. Sinta-se mais do que isso. Sinta-se protagonista das minhas fantasias mais impronunciáveis. E saiba que nem a face virada diante do beijo agonizante em volúpia lhe destituirá desse papel. Que nem mesmo os olhos esquivos que lhe vestem me privarão de lhe despir com os meus. E que quando não está por perto, minhas mãos debocham das censuras que as suas teimam em impor. </div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="center">De perto.</div><div align="justify"><br />A respiração intrusa tão próxima e inesperada fez com que meus pêlos tentassem fugir para perto dos seus, como galhos que crescem em direção ao sol. Crescem na esperança muda de quem cultiva o inatingível e se ramifica em busca não do toque, mas de uma fisgada de calor que seja. É o que arrebata, o que devora os sentidos e entorpece o ar ofegante que nos preenche e nos esmaga. Seu mistério persiste em cada inspiração até fugir indiscreto, fotografando sonhos em negativo. E me conta sussurrando que todo lugar é uma viagem possível para espíritos nítidos entre carnes e tormentos. Tortura meus desejos tão vulgarmente que os dissipa todos sobre si e sequer me importo, desde que seja de propósito. </div><div align="justify"></div><div align="justify"><br /><br /></div><div align="right">De dentro.</div><div align="justify"><br />Daqui, a vontade é tão lúcida quanto lúdica, inclusive a de me juntar ao caos dos seus cabelos inquietos ao vento e dançar com eles. Tal qual a brisa que sopra sem mostrar o rosto, do seu sorriso triste apenas os dentes me frequentam a memória. Mas lágrimas sempre foram mais transparentes do que dentes e nisso haveremos de concordar. Resta mastigar brisa com o apetite de uma imaginação delinquente, os pés nus e corpos descalços se contorcendo até toda rigidez se tornar fluida.</div><br /><br /><object width="250" height="40"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf" /><param name="wmode" value="window" /><param name="allowScriptAccess" value="always" /><br /><param name="flashvars" value="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=7281630&style=metal&p=0" /><br /><embed src="http://grooveshark.com/songWidget.swf" type="application/x-shockwave-flash" width="250" height="40"<br />flashvars="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=7281630&style=metal&p=0" allowScriptAccess="always" wmode="window" /></object>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-16156291252763137182010-06-17T11:39:00.000-03:002010-06-17T11:40:23.643-03:00Aos meus comparsas<div align="justify">Quem somos nós, comparsas, uns tantos de nós com tantos em cada um? Nós, que saímos pela madrugada violando olhos, ouvidos, almas e corações mal trancados para guardar nossas essências. Não queremos saquear nada além das chaves. Comparsas que de quarta a quarta pisam juntos sobre as pedras do caminho em plácidos encontros. Ouvimos as eternas novidades da bossa e dos baianos, mas ainda não ficamos doces nem bárbaros. Somos sal, o mesmo das lágrimas de felicidade, de tristeza e de crocodilo. O mesmo sal que lambe nossas pegadas e sorrisos de crocodilo quando saudoso nos vê chegar na praia suja, cagada e bonita. E ficamos cagados também. Porra, a gente é cagado pra caralho.<br /><br />Cagado por colecionar sonhos que acordam o íntimo, por lamber as estrelas do céu e guardar o sabor no peito, por largar o nada em busca de tudo. Nós, comparsas, estamos bem. Construímos uma varanda para contemplar o mundo e entendi tudo errado. Me atirei e, de tão alta a tal varanda, caio até hoje. Quem veio junto, antes ou depois de mim não sabe quando a queda vai terminar, só compartilha da mesma vontade de voar em direção ao chão como se estivesse cavando o céu. Os que não vieram ouvem ainda nosso canto entortar as carnes do abismo.<br /><br />Cidadãos instigados por ideais comuns beberam das águas de março e esperaram dezenove dias até o incomum lhes inundar as almas, bentos no sossego inquieto de quem se sabe artista e sabe o mundo mundo. Vastos. Somos o vômito cru de uma nação de zumbis antropofágicos. Passarinhos que passarão, decerto, mas que não cantam sós. Seguem voando, lunáticos e sem asas, a não ser as da imaginação.</div>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-63747485837199371172010-06-10T11:40:00.009-03:002011-05-17T17:01:23.629-03:00Engordando dicionários<div align="justify">- Eu não saberia lhe descrever. Sequer seria capaz de lhe inventar. É como quando alguém lhe pega de surpresa, tão de surpresa que você chega a pensar que nem sabia ser possível existir alguém daquele jeito no mundo, tão banal nas suas fantasias e tão raro fora delas. Meu susto não passou e ainda me surpreendo com cada dente do seu sorriso, cada movimento do seu olhar, cada gemido do seu sexo. Seja o que for que exista entre seus pêlos e seu corpo, deve ser a mesma coisa que existe entre seus pêlos e os meus. Ainda não saberia descrever, nem dizer o que é exatamente. Acho que quando não se sabe prestar tais satisfações, aí sim, estamos diante de uma novidade realmente empolgante, que ainda não tem nome porque ninguém descobriu além de nós. </div><div align="justify"></div><div align="justify"><br />- Tentar lhe definir seria como tentar definir o amor. E quero definir o amor na sentença mais extensa e prolixa que puder, que me custe a vida inteira até eu enfim terminar de proferi-la, o último pulsar do meu coração como ponto final. E quando dicionários forem impressos com mil páginas só para a letra A, espero que um dos sinônimos, o mais extenso e prolixo de todos, seja criado por você.<br /><br /><object height="40" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf"><param name="wmode" value="window"><param name="allowScriptAccess" value="always"><br /><param name="flashvars" value="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=26402145&style=metal&p=0"><br /><embed src="http://grooveshark.com/songWidget.swf" type="application/x-shockwave-flash" flashvars="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=26402145&style=metal&p=0" allowscriptaccess="always" wmode="window" height="40" width="250"></embed></object><br /><br /></div>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-20468803295593198992010-04-29T17:45:00.006-03:002011-05-17T17:05:21.800-03:00Castelo de areia molhada<p align="justify">Como gosto de você, minha querida. Seu cabelo escuro tinindo tão claro sob o sol e também sob ele o cheiro de praia que a pele exala. A praia que tem o cheiro da sua pele e eu, que rolo pela areia como um grão sorridente e debilóide que o vento leva e o mar traz. Para onde nós vamos depois daqui? Como nós vamos? Pés pela calçada, pneus pela estrada, ondas pelo oceano, mãos dadas pelo pensamento? Para onde vamos depois daqui?</p><p align="justify">Me dê suas mãos, que lhe dou meu coração. Me dê um tempo, que lhe dou a eternidade. É tudo chantagem apaixonada, mas ainda tenho aquele beijo que você me deu e nunca devolvi. Vem, vou te levar pra passear nas ruínas do meu castelo de areia. Deixo você brincar com os cardumes adestrados e escolher o búzio que achar mais bonito para levar para... para onde vamos mesmo depois daqui? Na verdade, não me importo, desde que sejam quatro as pegadas pela areia. </p><p align="justify">Se chover e o sol não mais queimar seu cheiro ou tingir seu cabelo, sei que esse charme todo, doce que é, vai derreter. Você vai mudar, que eu sei. Como gosto de você, minha querida, mas pode mudar. As pessoas mudam vida afora e se você não mudasse, não seria uma pessoa, não seria essa pessoa. Mude se quiser, mude na incansável busca de se parecer consigo mesma. Sinta-se à vontade. O importante é sentir-se. Eu também mudaria tudo por você, menos a mim. Para onde vamos depois? Seremos os mesmos lá ou seremos outros aqui? Para onde vamos depois daqui?</p><p align="justify"><object height="40" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf"><param name="wmode" value="window"><param name="allowScriptAccess" value="always"><br /><param name="flashvars" value="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=23651484&style=metal&p=0"><br /><embed src="http://grooveshark.com/songWidget.swf" type="application/x-shockwave-flash" flashvars="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=23651484&style=metal&p=0" allowscriptaccess="always" wmode="window" height="40" width="250"></embed></object><br /><br /></p>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-2167730553037982002010-03-27T16:59:00.004-03:002011-05-17T17:07:26.772-03:00Guardanapo<div align="justify">É um chinelo sem par no meio da rua, é a sombra esguia que dobra a esquina, é a praça deserta tomando banho de chuva. É o triunfo solitário da trapaça jamais descoberta, o medo necessário de ser desnecessário, o travesseiro de pregos sobre a cama em chamas. É uma coceira na ponta dos dedos, é um espirro de olhos abertos, é uma ferida nômade. É a lágrima seca, a garganta molhada, o pulmão turvo e a veia de sempre. É o peito vazio.</div><div align="justify"><br />É o talvez, é o será, é o poder, é o pudor, é a dor. É o vento lascivo que acaricia sem cortejar, é o sussurro da brisa espalhando segredos torpes, é um pêlo que se arrepia sozinho e envergonhado no meio do braço. É a agonia de dizer, é o pavor de escutar, é a paciência de uma folha de papel. É a eternidade discreta que habita as coisas, tudo que passa, tudo que é descartável. É a obra-prima num guardanapo, é a boca suja.</div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><div align="justify"></div><br /><object height="40" width="250"><param name="movie" value="http://grooveshark.com/songWidget.swf"><param name="wmode" value="window"><param name="allowScriptAccess" value="always"><br /><param name="flashvars" value="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=23229173&style=metal&p=0"><br /><embed src="http://grooveshark.com/songWidget.swf" type="application/x-shockwave-flash" flashvars="hostname=cowbell.grooveshark.com&songIDs=23229173&style=metal&p=0" allowscriptaccess="always" wmode="window" height="40" width="250"></embed></object>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-52371890262009081192010-01-15T23:59:00.015-03:002010-05-16T23:11:34.011-03:00Dormência<div align="justify"><em>A dormência causada pelo soco funcionava melhor do que qualquer força de vontade no sentido de superar a dor. Afinal, era uma mera questão de permuta: golpe antes, anestesia depois. Economiza-se agulhas.</em></div><div align="justify"><em></em> </div><div align="center">***</div><div align="justify"><br /><strong>I.</strong></div><div align="justify">O relógio de parede marcava duas horas e quinze minutos, pelo que ele pôde deduzir sem muita certeza em meio à escuridão do seu quarto àquela hora. À noite o som do tique-taque se tornava mais evidente que durante o resto do dia, como se todos tivessem ido dormir menos o tempo, que nunca aprendera a cochichar. Irremediavelmente molestado pelo barulho, sentou na beira da cama que, em resposta ao movimento brusco sobre si, resmungou com um rangido, mas sem acordar. Eram portanto só ele e o tempo naquela madrugada sem fim, pelo menos até que um deles o declarasse.</div><div align="justify"><br />Ao se dar conta de que as roupas da noite anterior ainda o vestiam, desabotoou os dois botões da camisa que insistiam em permanecer cumprindo sua função, mas não a tirou. Arrancou os tênis sem desamarrá-los, mas manteve as meias, assim como as calças, pois o trabalho que teria ao se levantar para tirá-las não compensaria. Deitou outra vez, mas sem dormir.</div><div align="justify"> </div><div align="justify"></div><div align="center">***<br /></div><em><div align="justify"><br />O par de luvas vermelhas de repente se transformou num exército rubro especialmente treinado para deixar seu rosto igualmente vermelho. Já se sentia roxo quando o homem de blusa listrada interveio. Sentou, cuspiu, bebeu, cuspiu, ouviu o homem de boina, levantou. Seu exército não foi junto e precisou encarar o outro sozinho com apenas duas de suas luvas. Estava vermelho.</div><div align="justify"></em> </div><div align="center">***<br /><br /></div><div align="justify"><strong>II.</strong></div><div align="justify">Piscou os olhos e, ao abri-los novamente e olhar para o relógio, a madrugada lhe saudava de braços abertos às três horas e quarenta e cinco minutos. Sentou na beira da cama e apoiou o queixo sobre uma das mãos enquanto olhava para aqueles ponteiros barulhentos como se fossem as pernas do tempo. Quem sabe assistir a tão monótono espetáculo pudesse fazê-lo dormir novamente... Observando a madrugada desfilar, pensou no quão sórdido era aquilo tudo. Queria dormir naquele momento, mas não podia. Quando acordasse, em compensação, aí sim teria sono. Sono não, vontade de dormir. A possibilidade de que tivesse um sono para si só começaria a se tornar concreta quando a noite lhe acenasse com um dos braços na noite seguinte, às nove e cinco.<br /></div><div align="justify"><br />"Sinto sono ao acordar e disposição ao ir para a cama", disse ou pensou em dizer enquanto fazia uma careta como a de alguém que descobre um segredo terrível sobre outra pessoa. Talvez sono fosse como sexo, que tem quem pense que quanto mais clandestino melhor. Lembrou de cada aula que perdeu com o rosto grudado à carteira, cada atraso que programou debaixo daquele mesmo lençol no qual estava sentado, cada telefone que deixou tocar, cada campainha que deixou de atender, cada desculpa que arquitetou dentro das pálpebras. Não haveria masturbação para aquilo e talvez por isso se empenhasse mais arduamente em realizar os anseios do sono que os da libido. E subitamente pervertido pelo sono, se deixou despejar sobre o colchão mais uma vez.</div><div align="center"><br />***<br /></div><em><div align="justify"><br />As cordas do ringue lhe amparavam o corpo, como se permanecer de pé fosse menos doloroso. Bem intencionadas, mas burras como cordas, insistiam em jogá-lo nos punhos agitados do adversário. Queria cair, mas não conseguia. Corda, soco, corda, soco. Tontura. Soco. Não. Eram as cordas. Queria cair, mas não sabia para que lado ficava o chão.</em></div><div align="center"> </div><div align="center">***<br /></div><div align="justify"><strong>III.</strong></div><div align="justify">Sobressalto. Após observar a vertigem fugir e o mundo, pego desprevenido, recuperar desajeitado a nitidez, deparou-se com a madrugada bêbada e cambaleante no relógio às cinco da manhã. Dali a uma hora e meia ela enfim recolheria os ombros e se abaixaria como um ator ao fim de uma peça, ovacionado pelo público enquanto fecham-se as cortinas. Ele, por sua vez, abriria as suas e começaria a desempenhar seu papel. Mas ainda faltavam noventa minutos até que o tique-taque não pudesse mais ser ouvido em meio a tudo que também não poderia ser ouvido. Um jogo de futebol até que botões e cadarços voltassem a ser moda. Uma hora e meia até finalmente sentir que saberia valorizar um colchão.</div><div align="center"><br />***<br /></div><em><div align="justify">Desistir ou não é irrelevante, pois quando se está derrubado, a perspectiva que se tem das coisas muda. Perde-se a dignidade, ganha-se uma meta. Ele era o único com uma meta ali. Ouvia números cada vez mais baixos enquanto reunia forças para interromper a sequencia. Já sabia para que lado ficava o chão e descobriu que nele teria que se apoiar para sobrepujar a gravidade. Sentia dor a cada contato com o solo, até convencê-lo a impulsionar seu corpo para cima. As dores, cicatrizes, hematomas, cortes e ossos quebrados estavam todos de pé.</em></div><div align="center"><br />***<br /><br /></div><div align="justify"><strong>IV.</strong></div><div align="justify">Havia perdido o fim da peça estrelada pela madrugada. Às quinze para as sete, ela, já travestida de manhã, lhe oferecia uma mão para ajudá-lo a levantar. Só mais cinco minutos? Não se pede tempo ao tempo, pois ele se acha tão suficiente que, a qualquer descuido, podemos perdê-lo. Afinal, é o presente que sempre passa e, o passado, a única coisa que permanece.<br /></div><div align="justify"><br />Mau hálito, ramelas, cara amassada, e mau humor estavam todos de pé.</div>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-8813788090977026542009-10-29T21:18:00.002-03:002009-10-29T21:21:51.494-03:00A saudade num copo d´água<div align="justify">Pra quê falar de saudade se posso falar de um copo d´água? Ele, vidro, transparente, cantos arredondados. A boca quase quadrada e a base quase redonda, dessas que dão a impressão de haver mais líquido ali do que realmente há. Ela, também transparente, onipresente, feita de si mesma. Tensa. Ela está nele, mas nadando em si. Se arrasta pela base, arranha os cantos, salta para o mais perto da boca que puder até despencar na base outra vez e ter ela mesma a impressão de ser mais do que realmente é.<br /><br />Ele a tem e preserva cada gota reunida ali num abraço distoante de toda a sua rigidez e imobilidade. Queria poder nadar nela e não poder é sua maior frustração. Uma gota a mais e eles se entreolham enquanto ela se debate de um canto ao outro. Ele finge não ver enquanto deseja mesmo se afogar, ela finge não se afogar enquanto corre para todos os lados em busca de uma saída. Mas o abraço dele a conforta outra vez e promete que sempre haverá espaço para ela entre a boca quase quadrada e a base quase redonda. Ela promete que estará sempre ali.<br /><br />Pra quê falar de solidão se posso falar de uma gota d´água? A cada nova que surge, o copo fica menor, seu abraço cada vez mais desesperado, sua base cada vez menos convincente. A água tenta sem sucesso desmanchar seus contornos, esticar as fronteiras de vidro e mostrar que ele não cumpriu sua promessa. Ele ainda quer ser parte dela, mas continua sem saber nadar. Se sente tão forasteiro quanto aquelas malditas gotas que sempre tanto o diminuíram, mas, ao contrário delas, não consegue que sejam um só. Ela se sente mais sufocada à medida que ele se sente mais encurralado.<br /><br />Janela aberta, céu fechado, a chuva entra mal-educada trazendo mais dela para dentro dele, que vê sua própria promessa fugir da boca quase quadrada pra fora. Afinal, estava diminuído como jamais pensou que estaria, enquanto ela, sufocada e decepcionada, fugia transbordante de dentro dele e o deixava inundado de lágrimas. As nuvens caçoaram do seu sofrimento, mas ele sabia que se havia encontrado até uma gota d´água maior que um dilúvio, poderia ser capaz de se tornar um copo d´água maior até que uma nuvem.<br /><br />Sem a chuva, ele se sentia enorme outra vez. Nadar ainda lhe era impossível, mas podia voar, como a maior das nuvens, carregar toda a água do mundo. As lágrimas haviam secado, mas um desespero mudo lhe dominava, pois, à medida que ia se sentindo cada vez maior, se sentia cada vez mais vazio.</div>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-29592691000670079692009-10-22T19:24:00.008-03:002009-11-09T23:36:44.157-03:00Vinte e três<div align="justify">- Quantos anos você tem?<br /></div><div align="justify">- Vinte e três.<br /></div><div align="justify">- Vai morrer com quarenta e seis?<br /></div><div align="justify">- Vou?<br /></div><div align="justify">- Perguntei quantos anos você tem, não quantos anos você não tem mais.<br /></div><div align="justify">- Às vezes sinto que vivi uns oitenta e que apenas me observo de lá, caçoando da minha saudosa juventude. Noutras, tenho treze e me envergonho do fragmento de multidão que me tornei.<br /></div><div align="justify">- E nesse momento?<br /></div><div align="justify">- Nesse momento sou a memória vigorosa do velho vagaroso no andador e a decadência do menino que escondeu sua dentadura. Também observo os dois.<br /></div><div align="justify">- Mas viver não é só contemplar! Você se multiplica por três para justificar não ser nenhum, não vê como é tolo isso?<br /></div><div align="justify">- Viver sem ser tolo é impossível. O menino de treze pregou uma peça no velho de oitenta por considerá-lo o quê? Tolo! E o que ele acha da minha calça comprida, da minha carteira assinada e da minha rubrica indecifrável? Tudo tolice, por mais que minha independência e a experiência do velhote provoquem nele certa admiração. Agora, se você me perguntar o que acho desse fedelho, minha resposta vai ser a mesma, e assim por diante. De qualquer ângulo, sou um tolo admirável, pelo menos para mim. E orgulhar esses dois me consome muito.<br /></div><div align="justify">- Eu acho que você tem vergonha de si mesmo, daí todo esse auto-deboche-sabotagem que te habita. Você nunca foi um velho de oitenta e mal lembra de ter sido um moleque de treze. Pra mim, você é um velho moleque de vinte e três que sente por si toda a repulsa e apreço do mundo ao mesmo tempo, mas que não sabe lidar com isso.<br /></div><div align="justify">- Fala como se eu tivesse culpa...<br /></div><div align="justify">- E tem, sabe que tem. Até porque não pode transferir essa culpa pra mais ninguém. Ao invés disso, transfere pra esses alteregos aí, que jamais ousariam lhe desmentir.<br /></div><div align="justify">- Culpa de quê mesmo?<br /></div><div align="justify">- De atrofiar a alma, rapaz!<br /></div><div align="justify">- Mas ainda tenho muitos anos...<br /></div><div align="justify">- Mesmo tendo tão poucos?</div><br /><br /><embed id="radioblog_player_-1" src="http://stat.radioblogclub.com/radio.blog/skins/mini/player.swf" width="180" height="23" type="application/x-shockwave-flash" flashvars="id=-1&filepath=http://www.radioblogclub.com/listen2?u=18yck5WdvN3Ln9Gbi5ybpRWYy9yZy9mLs92clRnbv1mL3d3d/04%2520-%2520Wilco%2520-%2520A%2520Ghost%2520Is%2520Born%2520-%2520Hummingbird.rbs&colors=body:#ECECEC;border:#BBBBBB;button:#999999;player_text:#999999;playlist_text:#999999;" bgcolor="#ECECEC" allowscriptaccess="always"></embed>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-43078277462659529072009-10-01T00:24:00.003-03:002009-10-01T00:29:30.502-03:00O colecionador de máscaras<div align="justify">"A primeira coisa que você tem que saber é que ninguém coloca uma máscara no rosto pra se esconder", o velho explicou enquanto abria duas das portas de vidro do enorme armário que ocupava toda a parede de sua sala. Dali, tirou com cuidado desproporcional uma máscara que mais parecia uma venda, a não ser pelo fato de ter um buraco aberto para cada olho. Ainda de frente para o armário, prosseguiu, enquanto experimentava o disfarce: "Com uma dessas você poderia ser desde um criminoso até um super-herói, não concorda? Só depende de como você quer ser visto. E se quer ser visto, imagino que seja porque não quer se esconder. Se quisesse, não colocaria uma coisa dessas na cara".</div><br /><div align="justify">Tirou a máscara, ajeitou desleixadamente os longos cabelos que emolduravam sua calvície e pôs-se a engomá-la na tábua posicionada logo ao lado do armário. "Não muito quente e com pouca força, que esse tecido é fino. O último que alugou trouxe a coitada de volta tão amassada que, quando vi, pensei que ela estivesse chorando, vê se pode!", e pendurou-a novamente no armário, ao lado de uma de lobisomem e outra de Lua. "Olha só essa", disse enquanto pegava a segunda. "Se eu te disser 'Ei, vai lá e faz uma máscara de Lua pra mim que eu quero ir fantasiado de Lua pra uma festa', você vai fazer uma parecida com essa, que eu sei. É minguante, né? Crescente, sei lá. E até se pedir pra uma criança desenhar uma lua, ela também vai fazer essa coisa parecida com a letra C. Sabe por quê?". O velho atravessou a sala com a máscara posta e abriu a janela, deixando a noite entrar. "Porque ninguém quer saber dela!", disse enquanto apontava para a lua cheia que flutuava no céu aquela noite, apresentando-a como se fosse uma aberração óbvia e indiscutível.</div><div align="justify"><br />"Ninguém quer saber de tudo, nem ver tudo. Ninguém quer usar uma máscara de lua cheia, porque aquilo nem parece uma lua e dane-se o fato de que ela na verdade nunca seca. Aquilo não é uma lua, isso é!", e apontou para a máscara que mantinha no rosto. Voltou ao armário, guardou sua lua no lugar de onde a tirou e dessa vez pegou a que estava pendurada logo ao lado. "Agora, se não se importa, vou aproveitar essa noite de lua cheia pra virar um lobisomem, tudo bem?".</div><div align="justify"><br />Sentado à beira da janela, se deixava ser contemplado pelos transeuntes, intrigados pela cena pouco convencional que aquele lobisomem lhes proporcionava. "A segunda coisa que você tem que saber é que não se conhece uma pessoa pelo que ela mostra, e sim pelo que ela esconde", explicou com a voz levemente abafada pela máscara que lhe tapava a boca. "Se somos capazes de esconder até a lua quase toda só pra pensar que ela é mais caprichada do que realmente é, é porque treinamos antes em nós mesmos para que pensem que somos mais crescentes, minguantes ou o que seja. É como se fôssemos todos luas cheias disputando um lugar ao sol".</div><div align="justify"><br />Fechou a janela, tirou a máscara, devolveu ao armário. "Agora vê se escolhe logo alguma aí que eu já tô querendo fechar".</div>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-46583912257717796572009-09-20T14:46:00.007-03:002009-09-22T19:20:46.037-03:00Ao vivo<div align="justify">Estamos ao vivo. Vamos lá, só eu e você. Pensando bem, não sei. Alguém se aproximou do quarto em que estou e escondi essa linha. Disfarcei, fingi que estava fazendo outra coisa. Pra ser bem sincero, fingi que não estava fazendo nada. Até o ócio e a inércia me parecem menos embaraçosos do que estar aqui, fazendo isso. Você é só minha imaginação e eu cá no meu espelho imaginário me vejo conversando com minha imaginação imaginária. E se o espelho quebrasse, você perguntou? Então devo ter sido eu. Bem, se o espelho quebrasse, seriam milhares de cacos imaginários espalhados pelo chão. E eu não saberia qual desses cacos seria meu reflexo mais fiel. Estaria esparramado por aí, sem saber onde começo nem onde termino.</div><div align="justify"><br />Orgulhamos egos, magoamos sorrisos, caímos, levantamos, perdemos migalhas de pão pelo caminho, vimos o mundo por um filtro de grades, vimos o mundo sem filtro nenhum e não sabemos como foi pior. Despistamos nossas sombras, mordemos panos, levamos choques e ainda existe uma alfândega entre nós. Não entenderam o que explicamos nem entendemos o que nos explicaram. Talvez o espelho já esteja quebrado e os cacos recolhidos, amontoados uns sobre os outros como se fossem uma coisa só. Como se fossem uma coisa só e não se refletissem contradizendo uns aos outros no meio dessa multidão solitária. Se somos uma casa de espelhos mal-assombrada? Acho que sim. E acho que somos nós que a assombramos.</div><div align="justify"><br />Sim, entendo que o espelho é imaginário, assim como você. Mas estamos ao vivo, não há tempo para nos fantasiarmos de reais. Se o espelho não existe, então quem é aquele sujeito tão familiar refletido nele? Você é a imaginação imaginária de um eu imaginário, se conforme de uma vez por todas com isso. E com o fato de estarmos ao vivo e sem migalhas para marcar o caminho de volta. Ao invés disso, só temos cacos de vidro e não queremos voltar pisando sobre eles enquanto refletem a dor em nossos pés. É o espelho a se vingar, imaginário uma ova. Só podemos ir em frente, desgovernados, escrevendo e desenhando coisas na parede do quarto sem a disposição para jamais pintá-la de novo. O bom é lembrar, o ruim é do quê.</div><div align="justify"><br />E quando você for embora, favor deixar uma lembrança qualquer, um recado disforme e cheio de rasuras na parede, para que eu possa ficar imaginando como ele foi parar ali e quem o deixou. E assim vai restar um caco seu no meio dos meus intermináveis e incomeçáveis.</div><div align="justify"><br />Estamos vivos. Vamos lá.</div><br /><br /><embed id="radioblog_player_-1" src="http://stat.radioblogclub.com/radio.blog/skins/mini/player.swf" width="180" height="23" type="application/x-shockwave-flash" flashvars="id=-1&filepath=http://www.radioblogclub.com/listen2?u=0vMHZuV3bz9yZvxmYu8WakFmcv02bj5SZpNXahxmclBnL3d3d/Peter%252C%2520Bjorn%2520and%2520John%2520-%2520Young%2520folks.rbs&colors=body:#ECECEC;border:#BBBBBB;button:#999999;player_text:#999999;playlist_text:#999999;" bgcolor="#ECECEC" allowscriptaccess="always"></embed>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-46723466237519242812009-07-30T19:13:00.001-03:002009-07-30T19:16:59.548-03:00Contagem Regressiva<div align="justify">Ele ainda está aqui; adormecido, inerte, prestes a explodir a qualquer momento ou a desaparecer discretamente em meio à vastidão do jamais. Enfim, ele ainda respira o sopro de vida que lhe foi dado, embora já não o faça tão ofegante e cheio de receios, tal qual outrora. É apenas mais um número desse espetáculo, dessa contagem regressiva. Um número que já foi contado e deixado para trás, mas cuja intensidade permenece em minha mente, produzindo um eco que torna a contagem um pouco mais lenta, talvez mais dolorosa também. Mas o que é o prazer senão uma dor bastarda?</div><div align="justify"><br />Permanece camuflado em mim, um rascunho do que sou agora, uma das primeiras peças do quebra-cabeça antes do dia em que resolveram usá-lo e dividi-lo em várias partes. Tão ingênuo, sonhador e confiante quanto iludido, não passa de matéria prima ultrapassada. Porém, ignora sua suposta efemeridade, assombrando até os últimos números dessa contagem regressiva com o seu eco ensurdecedor. </div><div align="justify"><br /> </div><div align="justify">..e ele brinca com a imortalidade enquanto apaga as oito velas cravadas no bolo.</div>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-29909775758453374802009-01-30T09:54:00.003-03:002009-11-12T19:35:54.087-03:00Teu<p align="justify">Meu amor por ti não existe, pois deixou de ser meu faz tempo para agora ser todo teu e de mais ninguém. Só me resta senti-lo por ti por telepatia como um sexto sentido compartido e bastante aguçado. Sei que já tiveste outros antes e que pode até vir a ter mais alguns no futuro, mas meu amor terás enquanto o universo continuar se expandindo só para poder abrigá-lo.</p><p align="justify">O amor autêntico não é algo que alguém nos faz sentir, mas sim algo que sentimos por alguém.</p><br /><br /><embed id="radioblog_player_-1" src="http://stat.radioblogclub.com/radio.blog/skins/mini/player.swf" width="180" height="23" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" bgcolor="#ECECEC" flashvars="id=-1&filepath=http://www.radioblogclub.com/listen2?u=18yck5WdvN3Ln9Gbi5ybpRWYy9icm5SZlJnZu82ZpJXYwFWbyF2a/Beck%2520-%2520Everybodys%2520gotta%2520learn%2520sometimes.rbs&colors=body:#ECECEC;border:#BBBBBB;button:#999999;player_text:#999999;playlist_text:#999999;"></embed>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-8773912528127934712008-12-22T00:38:00.004-03:002009-11-09T23:37:05.387-03:00Edredon azul amassado<div align="justify">Sentado ao lado da cama, procuro um espaço para mim junto ao edredon que, azul e amassado ao longo dela, move-se vez por outra revelando numa das extremidades três unhas de pé pintadas. De que cor, não posso saber. O escuro do quarto me esconde quase tantos segredos quanto o azul do edredon, do qual só tenho conhecimento por já tê-lo visto antes à luz do dia.</div><div align="justify"><br />Não que não tenha visto também as unhas antes, ou mesmo o pé inteiro, mas lembrar das suas cores seria tão absurdo quanto lembrar do brinco que ela tirou antes de se esconder lá embaixo. Sei que elas não são azuis. Nem amassadas. Apenas se ocupam em amassar aquele azul ainda mais, revelando na extremidade oposta alguns fios do cabelo castanho cujo corte jamais notei. Ou foi uma pintura? Não lembro ao certo, mas parecem mesmo um tanto amassados agora... Minha vista viaja pelos contornos do edredon, se demorando mais que o normal em cada parada para trapacear a escuridão. Se eu fosse um pintor, copiaria cada ausência de contraste que vejo agora, cada falta de detalhe e cada defeito dessa cena, incluindo os meus próprios, já que sequer saberia que cores usar. Mas ao invés de um pintor sem tintas, me contento em ser um escritor sem palavras.</div><div align="justify"><br />Quando o dia amanhecer, continuarei sem lembrar de que cor são aquelas unhas ou perceber o corte do cabelo, pois lembro melhor da cor e da textura do edredon azul amassado que no escuro continua a ser azul e amassado. Dela recordo apenas da respiração lenta e pausada, do brilho que os olhos emanam mesmo quando fechados, dos pés se esfregando um no outro a qualquer barulhinho ou antes de cada mudança de posição, das batidas do seu coração ecoando pelo colchão quando deitada de bruços e do progressivo distanciamento entre sua cabeça e o travesseiro ao longo da noite. </div><div align="justify"><br />Ao acordar, ela vai trocar de lado e puxar o azul e já bastante amassado edredon em sua direção e cobrir o rosto até se conformar com a idéia de levantar. A respiração vai acelerar, os olhos vão brilhar mesmo ainda sendo esfregados, os pés vão tocar hesitantes o chão frio e as batidas do seu coração vão ecoar em mim durante um abraço de bom dia. Não é por não ter tintas ou palavras que deixo de ter sentimentos e nem ela, mesmo coberta, deixa de ser linda.</div><br /><br /><embed id="radioblog_player_-1" src="http://stat.radioblogclub.com/radio.blog/skins/mini/player.swf" width="180" height="23" type="application/x-shockwave-flash" flashvars="id=-1&filepath=http://www.radioblogclub.com/listen2?u=2wLzRmb192cvc2bsJmLvlGZhJ3LyZmLlVmcm5Sdv1Gb/Mathieu%2520Chedid%2520-Ma%2520melodie.rbs&colors=body:#ECECEC;border:#BBBBBB;button:#999999;player_text:#999999;playlist_text:#999999;" bgcolor="#ECECEC" allowscriptaccess="always"></embed>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-68507839422341364852008-11-07T23:17:00.001-03:002008-11-07T23:26:34.619-03:00Dor<div align="justify">Ela vem de fora, sentimento forasteiro que invade e saqueia cada pedaço e pensamento. Pode estar em mim, mas não é minha; pode me possuir, mas não a possuo. E por ser de outro lugar, causa estranhamento no meu quando se hospeda sem fazer questão de hospitalidade. Faço as vezes de anfitrião sem rosto: não estou para ela, nem existo para ela! É ao anular minha face e minha presença que começamos a nos misturar até formarmos um híbrido. Sei que está ali, mas não a encontro para poder mostrar a saída. E em algum lugar no meio desse labirinto está eu, seja eu quem for ou quem era.<br /><br />Se descubro quem a levou até mim, levo de volta e juntos tentamos deixá-la no meio do caminho. Mas se há uma distância que torna esse caminho demasiado tortuoso, sequer a devolvo e sou capaz de guardá-la comigo como uma dor de estimação, por um mero acesso de medo de perdê-la.<br /><br />A dor é um trote sentimental; e eu, remetente e destinatário. É um fogo cruzado diante do espelho. Não é o oposto do prazer, e sim sua causa e conseqüência. Mas repito: nunca será só minha a não ser se causada por mim e para mim.<br /><br /><embed id="radioblog_player_-1" src="http://stat.radioblogclub.com/radio.blog/skins/mini/player.swf" width="180" height="23" type="application/x-shockwave-flash" flashvars="id=-1&filepath=http://www.radioblogclub.com/listen2?u=18yck5WdvN3Ln9Gbi5ybpRWYy9icm5SZlJnZuIXZmJXdzJXdvBXa0JXYwVGb/Aimee%2520Mann%2520-%2520One.rbs&colors=body:#ECECEC;border:#BBBBBB;button:#999999;player_text:#999999;playlist_text:#999999;" bgcolor="#ECECEC" allowscriptaccess="always"></embed></div>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3730089005833264626.post-67258945542517513332008-09-27T11:39:00.004-03:002009-02-01T00:43:23.527-03:00Conto inacabado sobre Fulano<div align="justify"><span style="font-size:78%;"><em>derivado do post anterior, "<strong>Bastidores de um conto</strong>"</em></span><br /><br />Procurando a interrogação, Fulano tentava conservar na cabeça a idéia que havia tido para usar após a pergunta de seu personagem. Acontece que a velha máquina de escrever tinha metade das teclas com suas inscrições apagadas, atribuindo a Fulano a árdua tarefa de ter na cabeça não apenas o enredo da história, como também a posição de cada caractere no teclado. Escritor medíocre que era, o era também para encontrar as teclas certas e precisava freqüentemente prender outra folha para reescrever tudo. Ao invés da interrogação, esbarrou num absurdo sinal de adição que nada adicionava à sua história. Seu personagem ficaria sem resposta mais uma vez.<br /><br />Arrancou o papel da máquina, conservando-o ao lado enquanto copiava tudo na nova e, esperava ele, definitiva folha. Durante todo o procedimento, Fulano contemplava o teclado a imaginar onde raios estaria a maldita interrogação. Às vezes imaginava se não lhe valeria mais a pena ter todos os botões do teclado com suas respectivas inscrições mesmo que sequer funcionassem, mas sabia que isso não passava de um devaneio convidado à mesa pelo crescente cansaço.<br /><br />Chegando ao ponto culminante, teve medo de chamar pela interrogação e ser atendido pelo ponto-e-vírgula ou pelo cedilha e continuou a apenas contemplar aquele teclado mudo, como se esperar o bastante fosse ajudar a gravar os caracteres ausentes na velha máquina. Outro devaneio, sabia, e sabia também que todos os teclados eram mesmo mudos. O que lhe incomodava naquele era que as teclas não davam satisfação alguma, privando-lhe do controle total sobre a situação. Se sentia pequeno e mecânico, um mero instrumento que aquela máquina usava para criar vida esporadicamente. Olhando ao redor, percebeu a casa onde morava tão velha quanto a máquina de escrever e, com seus barulhos e estalos, mais viva à medida que o tempo passava. Pensou que ia morrer um dia e que a casa e a máquina provavelmente ainda existiriam, assim como as fotos amareladas que guardava debaixo da cama ficavam mais expressivas quanto mais amarelas e, o vento nas janelas, mais melódico quanto menos conservadas estas estivessem.<br /><br />Evitando encarar a máquina, se deu conta de que qualquer monumento com cerca de 150 anos de existência ou tartaruga em crise de meia-idade estava na Terra havia mais tempo do que todo ser humano vivo e que nenhuma única pessoa testemunhou boa parte da História contada, ensinada, escrita, debatida, estudada, lida, aprendida. Depois que todos os seres humanos que existiam em séculos passados foram extintos e substituídos por outros, todos os passos, bocejos, beijos, dores, mentiras e outros detalhes de igual minúcia foram sepultados para sempre junto a seus respectivos autores e o mesmo aconteceria a ele e a qualquer um que conhecia ou já ouvira falar. Seriam todos como teclas mudas.<br /><br />Fulano se sentiu só em nome de todas as pessoas que existiam juntas naquele momento. Pegou uma caneta e desenhou à mão uma interrogação no fim do último parágrafo que escrevera. Seu personagem ficaria melhor sem resposta<br /><br /><embed id="radioblog_player_-1" src="http://stat.radioblogclub.com/radio.blog/skins/mini/player.swf" width="180" height="23" type="application/x-shockwave-flash" flashvars="id=-1&filepath=http://www.radioblogclub.com/listen2?u=18yck5WdvN3Ln9Gbi5ybpRWYy9yZvxmQvInZuUWZyZmLzxGbldXZyFmZ/Radiohead%2520-%2520Climbing%2520Up%2520the%2520Walls.rbs&colors=body:#FBFBFB;border:#BBBBBB;button:#999999;player_text:#999999;playlist_text:#999999;" bgcolor="#FBFBFB" allowscriptaccess="always"></embed><br /></div><p></p>Caio Castelohttp://www.blogger.com/profile/13280474065595900612noreply@blogger.com2