segunda-feira, 23 de junho de 2008

Transitivos

Ela vestiu o amarelo e calçou o de salto. Ouviu tocar, mas quando foi atender, não chamava. Ouviu de novo e foi lá, não sem antes maquiar e pentear. Ao abrir, fechou novamente. Era só a da frente, que havia chegado bêbada e agora entrava no seu próprio. Fechou.

Ele veio pelo mais longo e demorado. Pagou, desceu e, irritado, fechou com força. Ao entrar, chamou o social, mas ia demorar. Pegou o de serviço. Tocou, mas ninguém atendeu. Uma cambaleante apareceu e disse que estava vazio, para parar. Ele tocou mais uma vez e deixou pra lá. Não era a primeira, e, por isso, decidiu que seria a última.

No seguinte, apesar do anterior, ela acordou e preparou o favorito dele. Esperou até esfriar e saiu irritada, fechando com força a do 501. Chamou os dois, mas o social estava no décimo e, o de serviço, no térreo. Foi de escada.

Enquanto isso, ele despertava. Levantou sem mexer muito e vestiu em silêncio para não acordar, não sem antes bocejar e pentear. Após sair e fechar discretamente a do 502, viu que a do social já estava e voltou assustado. Saiu novamente e novamente pegou o de serviço, que estranhamente também estava. Desceu e, na calçada, chamou o primeiro, que passou direto. O segundo não viu e o terceiro fingiu que não viu. O quarto estava ocupado. Foi no quinto, mas, depois de entrar, viu que era o mesmo do anterior. Xingou, desceu, e bateu com força, mas dessa vez não pagou.

A da escada estava emperrada e ela precisou subir de novo. Ele esqueceu a carteira e precisou subir de novo. Ela não queria. Ele, muito menos. Subiram; ela de escada, ele de social. Se encontraram; ele sem carteira, ela sem fôlego. Discutiram; ela sem razão, ele muito menos. Terminaram; ele arrependido, ela sem fôlego. Voltaram; ele sem fôlego, ela arrependida. Entraram; e não lhes restou mais fôlego nem arrependimento.

A carteira jamais foi resgatada.

11 comentários:

th. disse...

Já falei, mas que fique registrado: esse texto aí... er.. esqueci.

Tales Siebra disse...

E na lembrança veio; 'baseado em fatos reais'.
Dáaaaa-lhe Toddynhos de reconciliação!

E um comentário a parte; o código para verificação de palavaras para comentar no blog é tão dificil que se perde até a vontade de comentar. [rs]
Dá uma olhada no meu; 'fjefhpi'
Realmente seria preciso isso tudo sá pra dizer que eu sou eu? [rs]
Mandarei mensagens ao blogspot. (:

Tales Siebra disse...

E lá vou eu ter que escrever o maldito código de novo para maiores explicações;
Não, eu não percebi que estava com o login do Tales, mas nem é tao dificil perceber quem é.
'wqtvhdd' ¬¬

th. disse...

Esse final, "a carteira jamais foi resgatada", me lembrou de imediato essa tirinha:

http://pbfcomics.com/?cid=PBF089-Caring_for_Your_Turtle.gif

Concordo com o pseudo-tales acima. "ormberm"

Raphael Bruno disse...

Você transborda. Escrevi para dizer.

hehehe

Abraço!

Renata disse...

Muito,muito legal! Bem mais divertido do que aquelas coisas maníaco-depressivas ¬¬ Pra tu ver,me dei até ao trabalho de postar um comentário!
=*

o fantástico mundo de laranja disse...

nossa que instigante!

tô voltando a ativa cainho!
e ajudei a bater seu recorde!
7 comentários \o/

raquelholanda disse...

Uau! Esse é fabuloso. A construção do texto é magnífica, assim, sem comentários...
Aliás, mais um comentário para o recorde, ou seria para recordar?
Abraço!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Pirei!

Com o texto. 'olmmyiev' é o de menos.

tinah disse...

Poxa, muito bom.
Texto maravilhoso.
Voltarei aqui mais vezes.
rs