Pra quê falar de saudade se posso falar de um copo d´água? Ele, vidro, transparente, cantos arredondados. A boca quase quadrada e a base quase redonda, dessas que dão a impressão de haver mais líquido ali do que realmente há. Ela, também transparente, onipresente, feita de si mesma. Tensa. Ela está nele, mas nadando em si. Se arrasta pela base, arranha os cantos, salta para o mais perto da boca que puder até despencar na base outra vez e ter ela mesma a impressão de ser mais do que realmente é.
Ele a tem e preserva cada gota reunida ali num abraço distoante de toda a sua rigidez e imobilidade. Queria poder nadar nela e não poder é sua maior frustração. Uma gota a mais e eles se entreolham enquanto ela se debate de um canto ao outro. Ele finge não ver enquanto deseja mesmo se afogar, ela finge não se afogar enquanto corre para todos os lados em busca de uma saída. Mas o abraço dele a conforta outra vez e promete que sempre haverá espaço para ela entre a boca quase quadrada e a base quase redonda. Ela promete que estará sempre ali.
Pra quê falar de solidão se posso falar de uma gota d´água? A cada nova que surge, o copo fica menor, seu abraço cada vez mais desesperado, sua base cada vez menos convincente. A água tenta sem sucesso desmanchar seus contornos, esticar as fronteiras de vidro e mostrar que ele não cumpriu sua promessa. Ele ainda quer ser parte dela, mas continua sem saber nadar. Se sente tão forasteiro quanto aquelas malditas gotas que sempre tanto o diminuíram, mas, ao contrário delas, não consegue que sejam um só. Ela se sente mais sufocada à medida que ele se sente mais encurralado.
Janela aberta, céu fechado, a chuva entra mal-educada trazendo mais dela para dentro dele, que vê sua própria promessa fugir da boca quase quadrada pra fora. Afinal, estava diminuído como jamais pensou que estaria, enquanto ela, sufocada e decepcionada, fugia transbordante de dentro dele e o deixava inundado de lágrimas. As nuvens caçoaram do seu sofrimento, mas ele sabia que se havia encontrado até uma gota d´água maior que um dilúvio, poderia ser capaz de se tornar um copo d´água maior até que uma nuvem.
Sem a chuva, ele se sentia enorme outra vez. Nadar ainda lhe era impossível, mas podia voar, como a maior das nuvens, carregar toda a água do mundo. As lágrimas haviam secado, mas um desespero mudo lhe dominava, pois, à medida que ia se sentindo cada vez maior, se sentia cada vez mais vazio.
Ele a tem e preserva cada gota reunida ali num abraço distoante de toda a sua rigidez e imobilidade. Queria poder nadar nela e não poder é sua maior frustração. Uma gota a mais e eles se entreolham enquanto ela se debate de um canto ao outro. Ele finge não ver enquanto deseja mesmo se afogar, ela finge não se afogar enquanto corre para todos os lados em busca de uma saída. Mas o abraço dele a conforta outra vez e promete que sempre haverá espaço para ela entre a boca quase quadrada e a base quase redonda. Ela promete que estará sempre ali.
Pra quê falar de solidão se posso falar de uma gota d´água? A cada nova que surge, o copo fica menor, seu abraço cada vez mais desesperado, sua base cada vez menos convincente. A água tenta sem sucesso desmanchar seus contornos, esticar as fronteiras de vidro e mostrar que ele não cumpriu sua promessa. Ele ainda quer ser parte dela, mas continua sem saber nadar. Se sente tão forasteiro quanto aquelas malditas gotas que sempre tanto o diminuíram, mas, ao contrário delas, não consegue que sejam um só. Ela se sente mais sufocada à medida que ele se sente mais encurralado.
Janela aberta, céu fechado, a chuva entra mal-educada trazendo mais dela para dentro dele, que vê sua própria promessa fugir da boca quase quadrada pra fora. Afinal, estava diminuído como jamais pensou que estaria, enquanto ela, sufocada e decepcionada, fugia transbordante de dentro dele e o deixava inundado de lágrimas. As nuvens caçoaram do seu sofrimento, mas ele sabia que se havia encontrado até uma gota d´água maior que um dilúvio, poderia ser capaz de se tornar um copo d´água maior até que uma nuvem.
Sem a chuva, ele se sentia enorme outra vez. Nadar ainda lhe era impossível, mas podia voar, como a maior das nuvens, carregar toda a água do mundo. As lágrimas haviam secado, mas um desespero mudo lhe dominava, pois, à medida que ia se sentindo cada vez maior, se sentia cada vez mais vazio.
Um comentário:
deve ser por conta da mudança de estado. da água, eu quero dizer. talvez a leveza ainda seja estranha e se confunda com vazio. é que antes água pra lá e pra cá nas paredes do copo, tão lágrima, tão tormenta, de repente sublimou e virou ar. respira fundo, aproveita. a vida é assim mesmo, uma hora somos nuvem, outra hora somos chuva. importante é continuar a nadar :)
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