quinta-feira, 29 de abril de 2010

Castelo de areia molhada

Como gosto de você, minha querida. Seu cabelo escuro tinindo tão claro sob o sol e também sob ele o cheiro de praia que a pele exala. A praia que tem o cheiro da sua pele e eu, que rolo pela areia como um grão sorridente e debilóide que o vento leva e o mar traz. Para onde nós vamos depois daqui? Como nós vamos? Pés pela calçada, pneus pela estrada, ondas pelo oceano, mãos dadas pelo pensamento? Para onde vamos depois daqui?

Me dê suas mãos, que lhe dou meu coração. Me dê um tempo, que lhe dou a eternidade. É tudo chantagem apaixonada, mas ainda tenho aquele beijo que você me deu e nunca devolvi. Vem, vou te levar pra passear nas ruínas do meu castelo de areia. Deixo você brincar com os cardumes adestrados e escolher o búzio que achar mais bonito para levar para... para onde vamos mesmo depois daqui? Na verdade, não me importo, desde que sejam quatro as pegadas pela areia.

Se chover e o sol não mais queimar seu cheiro ou tingir seu cabelo, sei que esse charme todo, doce que é, vai derreter. Você vai mudar, que eu sei. Como gosto de você, minha querida, mas pode mudar. As pessoas mudam vida afora e se você não mudasse, não seria uma pessoa, não seria essa pessoa. Mude se quiser, mude na incansável busca de se parecer consigo mesma. Sinta-se à vontade. O importante é sentir-se. Eu também mudaria tudo por você, menos a mim. Para onde vamos depois? Seremos os mesmos lá ou seremos outros aqui? Para onde vamos depois daqui?