terça-feira, 20 de julho de 2010

Tríptico

De longe.

Sinta-se desejado. Não. Sinta-se mais do que isso. Sinta-se protagonista das minhas fantasias mais impronunciáveis. E saiba que nem a face virada diante do beijo agonizante em volúpia lhe destituirá desse papel. Que nem mesmo os olhos esquivos que lhe vestem me privarão de lhe despir com os meus. E que quando não está por perto, minhas mãos debocham das censuras que as suas teimam em impor.


De perto.

A respiração intrusa tão próxima e inesperada fez com que meus pêlos tentassem fugir para perto dos seus, como galhos que crescem em direção ao sol. Crescem na esperança muda de quem cultiva o inatingível e se ramifica em busca não do toque, mas de uma fisgada de calor que seja. É o que arrebata, o que devora os sentidos e entorpece o ar ofegante que nos preenche e nos esmaga. Seu mistério persiste em cada inspiração até fugir indiscreto, fotografando sonhos em negativo. E me conta sussurrando que todo lugar é uma viagem possível para espíritos nítidos entre carnes e tormentos. Tortura meus desejos tão vulgarmente que os dissipa todos sobre si e sequer me importo, desde que seja de propósito.


De dentro.

Daqui, a vontade é tão lúcida quanto lúdica, inclusive a de me juntar ao caos dos seus cabelos inquietos ao vento e dançar com eles. Tal qual a brisa que sopra sem mostrar o rosto, do seu sorriso triste apenas os dentes me frequentam a memória. Mas lágrimas sempre foram mais transparentes do que dentes e nisso haveremos de concordar. Resta mastigar brisa com o apetite de uma imaginação delinquente, os pés nus e corpos descalços se contorcendo até toda rigidez se tornar fluida.




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