A porta tremia e a maçaneta movia-se como que por vontade própria. O lado de fora gritava obscenidades, dessas que só são admitidas se proferidas até um certo volume. O volume era alto e ele tapava os ouvidos, sentado entre a pia e o vaso sanitário.
O chão pedia silêncio, ali não era hora nem lugar. Do teto apenas gotejava uma água escura, devido a alguma infiltração, talvez. Mas quem era ele para julgar? Dos seus olhos outrora maquiados agora saíam gotas tão ou até mais escuras que as do teto, suas mãos tremiam como a porta e, assim como o chão, desejava tanto o silêncio que faria qualquer coisa por uma surdez repentina.
Não, pensando bem, não faria. Havia dito poucas horas antes que faria qualquer coisa por cinqüenta reais. Agora as lágrimas, o catarro e o sêmen formavam uma só emulsão grotesca e pegajosa perto da boca, difícil de tirar do bigode. Os gritos do lado de fora ainda soltavam obscenidades além do volume admissível, mas não alto o bastante para quebrar o espelho do banheiro. Nele, um homem grotesco, pegajoso e difícil de tirar dali. Decidiu continuar mesmo do lado de dentro, onde é mais protegido, mais fácil de se acomodar.
Lá fora, fizessem o que fizessem, sua alma seria a fronteira.
4 comentários:
Matroca,
Já está aqui nos meus favoritos! ;)
Muito bom o "epicentro"! O outro tbm! Mas o "epicentro" me fez pensar se "ele" "é" feliz!! xP
;@@@
pode ter certeza, você fez a coisa certa.
texto + música..muito bom esse par.
ah, não podia esquecer da logo, que ficou um espetáculo.
parabéns caio!
como é q tu expõe teu passado assim publicamente?! :P
show!!!
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